Trajetória leitora

Podemos utilizar muitos verbos na esperança de explicar o que é leitura, eu fico com estes:

Quando se pensa em leitura, vem à mente a “capacidade de” ou “aptidão para” decodificar letras, palavras e/ou frases que constituem um texto escrito e, num segundo momento, pronunciá-las corretamente de acordo com a norma padrão da Língua Portuguesa. SILVA (2009).

Mas, essa percepção não engloba todo o significado de leitura, pois, “[…] quando lemos algo, todo o conhecimento que temos sobre as coisas que nos cercam, vem à tona. É assim que conseguimos atribuir sentido e entender o que é lido – na verdade, ler é produzir sentido, sentir o que lemos com o nosso próprio ser. Por isso, cada pessoa pode ter a sua própria interpretação de um texto, que será única, diferente das leituras realizadas por outras pessoas.” Portal Educação (2013). Já para Josette Jolibert (1994), “Ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito”.

Para além disso, é correto acrescentarmos a interação afetiva entre autor, texto e leitor, aquela conexão estabelecida no decorrer das páginas que nos torna íntimos como se fôssemos conhecidos de longa data. Entregamos nosso tempo à um enredo que nos instiga, nos leva a investigar, criar expectativas, nos emociona. 

Tal trajetória estimula novos significados, descobertas e conhecimentos, e assim sendo, a formação do leitor.  Para a maioria das pessoas, essa formação leitora teve início na infância, então, a pergunta que queremos fazer é “como é a trajetória de leitura da criança?”

Para respondê-la é importante refletirmos que, como muito se tem propagado, a leitura é um passaporte para a imaginação, a criatividade, é uma maneira de “viajar” e, sendo assim, não é passível de imposições. Pois, conforme sinaliza Nye Ribeiro, antes de mais nada, a leitura precisa ser uma fonte de prazer. A autora reitera que “[…] a leitura, inserida desde cedo no cotidiano infantil, favorece o conhecimento, porém, de forma lúdica e prazerosa.” 

É sabido que o hábito da ler não é um processo rápido, porém, pode ser despertado e cultivado desde os primeiros anos de vida “[…] à medida que os pequenos leitores têm contato com textos e linguagens que interroguem, criem incertezas, provoquem e tirem da zona de conforto, o seu pensamento evolui para construir o próprio gosto, criando condições para que sejam leitores autônomos, capazes de construir sentido próprio.” Laboratório Emília (2018).

Mas talvez, na ânsia de estimular a leitura infantil, em casa ou na escola, podemos nos “empolgar” e criar situações de obrigatoriedade e é justamente o contrário. É importante criarmos ambiente acolhedor, descontraído e harmonioso para que a criança se sinta estimulada e construa sua trajetória como leitora.

Contudo, não é tão simples… Muitos autores, inclusive Nye Ribeiro, já citada, afirmam que ler é um ato de amor, o que nos leva à outra pergunta, por quê? Ora, sabemos que crianças dificilmente ficam paradas, quietas e com atenção focada, “[…] elas se conectam com a história de um modo distinto, e o mediador deve ter tempo e disponibilidade para entrar nesse ritmo. A generosidade, a paciência, o afeto, o respeito aos diferentes tempos são condições imprescindíveis para uma boa mediação com os pequenos leitores.” Laboratório Emília (2018).

Assim, podemos entender que a leitura vai muito além da codificação de palavras, é um processo enriquecedor e estimulante, é uma fonte de prazer e também é particular a cada indivíduo, seja adulto ou criança. Para colaborarmos com a formação leitora da criança, para que seja livre, instigante e autônoma, precisamos respeitar as suas fases, com paciência, dedicação e amor.

Confira uma pequena seleção de histórias que estimulam uma leitura investigativa, reflexiva e, principalmente muito divertida!

Débora Araújo

 

Referências:

JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. vol. 1. Trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
LABORATÓRIO EMÍLIA. Infâncias e Leituras. São Paulo: Laboratório Emília, 2018.
PORTAL EDUCAÇÃO. Literatura Infantil. Campo Grande: Portal Educação, 2013.
RIBEIRO, Nye. Feliz da criança que tem alguém para lhe contar histórias. Disponível em < http://projetoabelha.com.br/?p=3097>. Acesso em 30/11/2020.
SILVA, Ana Luiza. Trajetória da Literatura Infantil: da origem histórica e do conceito mercadológico ao caráter pedagógico na atualidade. São Paulo: Univem, 2019.

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